Os Apóstolos em Quem Deus Confia,Part.II
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Os Apóstolos em Quem Deus Confia,
Part.II
Watchman Nee (1903-1972)
por
Huelon Mountfort
Watchman Nee é considerado um dos mais importantes líderes e pensadores nativos na história do Cristianismo chinês. Há poucos líderes na história do Cristianismo chinês cuja influência é tão prevalecente quanto a de Watchman Nee.
Nee produziu mais do que 40 volumes de devocionais, sermões, bem como obras teológicas. Seus escritos foram traduzidos para muitos idiomas orientais, tais como japonês, coreano, indonésio, tagalo, bem como para idiomas ocidentais, tais como inglês, francês, espanhol e português. Seus livros continuam a influenciar muitos grupos cristãos, desde grupos carismáticos renovados até igrejas tradicionais por todo o mundo.
Ele é o fundador do“Pequeno Rebanho” [Little Flock], a maior denominação cristã protestante na China na época do regime comunista em 1949. O “Pequeno Rebanho” começou em 1923 com uns poucos membros e em menos de 20 anos cresceu para se tornar uma denominação com mais de 700 congregações e 70.000 membros. Naquele tempo alguns estimam que dentre os aproximadamente 700.000 a 1.000.000 de membros da igreja protestante na China, o “Pequeno Rebanho” tinha 100.000 membros. A despeito dos números, esse movimento cristão de 20 anos de idade provou para si mesmo ser uma tremenda realização. Mesmo debaixo da opressão e perseguição comunista durante os anos 50 e 60, o “Pequeno Rebanho” continuou a crescer. E hoje, o movimento ainda está ativo por toda a China. Além do mais, a teologia, prática e espiritualidade distintiva do “Pequeno Rebanho” está enraizada em muitos círculos cristãos chineses, seja na China ou por todo o mundo.
BREVE PANO DE FUNDO DO CRISTIANISMO COLONIAL NA CHINA
Por volta de 1800, a China estava novamente fechada para o Cristianismo. Durante as décadas passadas das missões protestantes na China, o colonialismo e imperialismo ocidental coincidiram com a obra do evangelho. O Cristianismo foi identificado com o ópio devido ao fato de que muitos missionários ao longo da costa em navios mercantis que carregavam ópio.
À medida que a agressão ocidental aumentou, os sentimentos anti-estrangeiros se levantaram. Os sentimentos nacionalistas emergiram para formar uma série de movimentos de agressão anti-imperiais. Por volta de 1920, embora a Igreja Protestante tivesse crescimento missionário, a disposição anti-estrangeira e anti-cristã foi despertada pelo crescimento do movimento comunista. Foi durante esse tempo que o surgimento dos movimentos de igreja nativos na China foi proeminente. Esse movimento foi uma expressão de um desejo nacionalista de ser independente do domínio missionário ocidental. O período até 1930 foi significante para o desenvolvimento de um ensino superior, da organização da igreja e para o surgimento e crescente importância dos líderes chineses. Até a vitória do Comunismo em 1949, o Cristianismo parecia ser crescentemente influente.
Subsequentemente, as igrejas e instituições cristãs foram tomadas pelo Estado. Igrejas foram forçosamente fechadas e cristãos foram forçados a se conformarem aos requerimentos e ensinos do Comunismo. Aqueles que desobedeciam as “doutrinas comunistas” eram perseguidos ou fugiam. Foi com esse fundo político e social que a vida, o ministério e o martírio de Watchman Nee foram moldados.
A VIDA DE WATCHMAN NEE
Watchman Nee nasceu numa família com uma herança cristã. Seu avô, U Cheng Nee, foi um dos primeiros ministros chineses ordenados das missões Congregacionais na Província Fukien da China. Nee era o terceiro filho de nove, mas o primeiro do sexo masculino. Visto que a tradição chinesa favorece os filhos, os parentes desprezavam famílias com nenhuma criança do sexo masculino. Quando a mãe de Nee estava esperando o terceiro filho, ela orou a Deus fervorosamente, pedindo por um filho e dedicando esse terceiro filho a Deus, se uma maneira similar à Ana em 1 Samuel 1:1-20. Deus ouviu sua oração. Em 4 de Novembro de 1903, Nee Shu-Tsu (mais tarde conhecido como Watchman Nee) nasceu. Nee mais tarde mudou seu nome para “Duo Sheng” (“Watchman” em inglês) significando “som do gongo”, ou uma sentinela [watchman] para levantar o povo de Deus para o serviço.
Durante a sua juventude Nee atendeu escolhas fundadas pela Sociedade da Igreja Missionária em Fuzhow, China. E em todas as áreas ele mostrou uma promessa intelectual extraordinária. Quando ele tinha 18 anos de idade, Nee dedicou sua vida à Cristo através da pregação de Miss Dora Yu, uma ex-estudante de medicina, que deixou uma ocupação lucrativa e dedicou sua vida à pregação da palavra de Cristo. Nee, naquela época, sabia que era tudo ou nada. Quando ele foi batizado, ele declarou: “Senhor, eu deixou meu mundo para trás. Sua crua me separa dele para sempre, e já entrei em outro. Eu permaneço onde me colocaste em Cristo!”. [1]
Nee e outros estudantes que tinham um zelo comum pela propagação do evangelho entre os jovens na sua cidade, e nas igrejas e colégios locais, uniram-se em oração e para o estudo da Bíblia. Eles arranjaram as suas próprias reuniões e se engajaram num vigoroso evangelismo de rua. Entre os anos de 1923-1928, Nee publicou as revistas Revival [Reavivamento ]e Christian [Cristão], bem como o livro The Spiritual Man [O Homem Espiritual]. Nee foi um instrumento no reavivamento espiritual entre os estudantes nesse período.
A FORMAÇÃO DO PEQUENO REBANHO
Em 1928, Nee mudou seu nome para Watchman e se estabeleceu em Shanghai [Xangai]. Durante esse tempo, ele teve uma boa medida de desdém por parte das igrejas denominacionais daqueles dias. Na revista Revival, ele expressou que cria que a igreja estava impedindo o propósito de Deus. De acordo com Nee, muitos ministérios feitos “para o Senhor”, “em nome de Deus”, para o reino de Deus”, “para a Igreja de Cristo” estavam sendo feitos na carne. As pessoas não estava buscando a vontade de Deus, mas a sua própria vontade. [2] Ele estava buscando “uma resposta para o problema importado das divisões denominacionais cuja história e valor eram, ele sentia, quase impossíveis de um novo convertido apreciar. Afligindo a Igreja potencial na China com suas diferenças sectárias, as missões tendiam somente a dividir”. [3] Em seu esforço para encontrar uma resposta, ele retornou ao que ele considerava uma obediência simples ao Novo Testamento sugerida pelos escritos de John Nelson Darby e C. A. Coated. Ele via que as igrejas na Igreja deveriam ser auto-governadas, auto-sustentadas e auto-propagadoras. Esse conceito “triplo-auto” foi recordatório de uma estratégia de missões adotada por Henry Venn e Rufus Anderson no século XIX, que mais tarde foi usada pelo Partido Comunista Chinês. Foi nesse tempo que Nesse estabeleceu a primeira assembléia independente em Hardoon Road em Shanghai. Ele era o principal orador na primeira conferência Shanghai desse novo movimento, que mais tarde ficou conhecido como o “Pequeno Rebanho”. Em 1939, Nee publicou um hino intitulado “A Collective Hymnal of the Little Flock” [Um Hino Coletivo do Pequeno Rebanho]. Assim, o movimento adquiriu o nome de “Pequeno Rebanho”. Nee e seus seguidores, contudo, chamam a si mesmos de “Uma Reunião Local dos Crentes em Nome do Senhor”, ou “Lugar de Reunião Cristã (Nome da Cidade)”. O movimento se espalhou por toda a China, experimentando um genuíno reavivamento. Por volta de 1936 havia 30 assembléias.
“Um dos pontos fortes do movimento de Nee era que todo crente era um trabalhador não assalariado. À medida que os crentes se movem para as novas comunidades, seus lares se tornavam centros cristãos”. [4] Cada igreja era uma unidade autônoma liderada por presbíteros. Contudo, Nee também comissionou trabalhadores de tempo integral, aos quais ele chamava “apóstolos”, para se moverem sem restrição tanto para evangelizar como para estabelecer novas igrejas. As tarefas dos “apóstolos”, contudo, eram centralizadamente organizadas. Eles eram treinadas, aconselhadas e tinham suporte financeiro de Nee e seus associados.
O conceito de Nee do “Pequeno Rebanho” era muito influenciado pelos escritos dos Irmãos de Plymouth. Após a formação do “Pequeno Rebanho”, seis Irmãos (Irmãos exclusivos) de Londres representantes do Reino Unido, dos Estados Unidos e da Austrália, foram para Shanghai para se encontrarem com Nee. Eles se impressionaram com Nee, especialmente com seu conhecimento das Escrituras. Os Irmãos de Londres estavam considerando ter as igrejas de Nee na China como uma parte da sua obra de missão da igreja. Contudo, até mesmo para Nee, os Irmãos de Londres eram muito exclusivos em sua prática de comunhão fraternal. Assim, em 1935, os Irmãos de Londres terminaram a comunhão entre eles e os irmãos de Shanghai.
O FINAL DA VIDA DE NEE
À medida que a guerra chinesa continuou, a obra de Nee foi afetada mais e mais, e em 1942, Nee, justamente com os seus irmãos, um pesquisador químico, estabeleceu o Laboratório Biológico e Químico da China [China Biological and Chemical Laboratory (CBC)] para apoiar as necessidades financeiras dos seus “apóstolos”. Esses lucros dessa companhia estavam sendo usados para apoiar a sua obra. Contudo, os presbíteros da igreja de Shanghai desaprovaram os envolvimentos de Nee com essa companhia e lhe pediram para não pregar na igreja dele. Com o envolvimento de Nee, o CBC se tornou um dos principais importadores e fabricantes de produtos farmacêuticos manufaturados na China. Apesar de tudo, em 1945, Nee começou a se desligar do CBC e mais tarde virou toda a empresa CBC para a igreja. Essa ação trouxe prosperidade para a igreja, todavia, tornou-se mais tarde o assunto de crítica por parte do Partido Comunista.
Em 1 de Outubro de 1949, a República das Pessoas da China foi estabelecida. A despeito das súplicas de outros, Nesse e sua esposa retornaram novamente para Shanghai. Nee queria estar com seus irmãos e irmãs em Cristo. Nos primeiros dois anos do regime Comunista, Nee ainda era capaz de ministrar, reunido de 3 a 4 mil pessoas por domingo, na igreja de Shanghai. Mas em 10 de Abril de 1952, Nee foi preso. Ele foi acusado de espionagem, de atividades contra-revolucionárias e de irregularidades financeiras e até mesmo morais. A acusação com 2.296 páginas contra Nee tornou-se pública em Janeiro de 1956. Muitos dos crentes do Pequeno Rebanho foram presos e as igrejas por todo o país foram fechadas à força. A assembléia de Shanghai foi conseqüentemente fechada e tornou-se uma fábrica.
Nee foi sentenciado a quinze anos de prisão, contudo, ele não foi libertado em 1967, quando sua sentença estava completa. Era comum prisioneiros serem considerados “não-reformados” para dar uma sentença adicional de cinco a sete anos. Assim, em 1 de Junho de 1972, logo após ter sido movido da prisão de Shanghai para um campo de trabalho rural, Watchman Nee morreu aos 69 anos de idade.
CONTROVÉRSIA E DISCUSSÕES SOBRE SUA TEOLOGIA
Embora Nee tenha terminado sua educação formal ao redor por nível universitário júnior, ele provou ser um poderoso pensador e continuou a estudar por toda a sua vida. A teologia de Nee e o desenvolvimento de muitos dos seus pensamentos foi profundamente influenciada pela senhora Margaret E. Barber. Através dela, Nee foi exposto às formulações e pensamentos teológicos ocidentais, que ajudaram a moldar o seu pensamento. Embora Nee tenha lido e sido exposto a uma ampla variedade de formulações teológicas cristãs ocidentais, suas influências podem ser sumarizadas da seguinte forma:
Misticismo: As influências místicas foram dos escritos de Madame Jeanne de la Motte Guyon (1648-1717). Nee foi profundamente influenciado pela busca de Madame Guyon por uma “profunda união com Cristo”. [5]
Teologia de Keswick: Novamente através da senhora Barber, Nee leu amplamente os escritos de autores da santidade de Keswick, incluindo Jessie Penn-Lewis, Andrew Murray, Evan Roberts, T. Austin Sparks, F.B. Meyer, Otto Stockmayer, etc. A ênfase de Nee sobre temas tais como a crucificação e sua visão tricotomista do homem foram poderosamente expostas nos escritos de Jessie Penn-Lewis. [6]
Teologia dos Irmãos: Entre os escritos de diferentes eruditos e autores, as obras dos Irmãos foram as mais influentes. Eles incluem C.A. Coates, John Nelson Darby, George Muller, C.H. Mackintoch, William Kelley, Charles Stanley, George Cutting, etc. Em seu livro, The Orthodoxy of the Church [A Ortodoxia da Igreja], Nee mostra sua dívida aos Irmãos, onde seu sistema de Teologia foi formulado:
Eles nos mostraram como o sangue do Senhor satisfez a justiça de Deus; a certeza da salvação; como o crente mais fraco pode ser aceito em Cristo, assim como Cristo foi aceito; como crer na Palavra de Deus como o fundamento da salvação. Desde que a história da igreja começou, não houve um período quando o evangelho foi mais claro do que em seu tempo. Não somente isso, mas eles também nos mostraram que a igreja não pode ganhar o mundo inteiro, que a igreja tem um chamado celestial, e que a igreja não tem esperança terrena. Foram eles quem também desobstruíram as profecias pela primeira vez, fazendo-nos ver que o retorno do Senhor é a esperança da igreja. Foram eles quem abriram o Livro de Apocalipse e o Livro de Daniel e nos mostraram o reino, a tribulação, o rapto e a noiva. Sem eles, conheceríamos hoje uma percentagem muito pequena das coisas futuras. Foram eles também que nos mostraram o que a lei do pecado é, o que é ser livre, o que é estar crucificado com Cristo, o que é ser ressuscitado com Cristo, como ser identificado com o Senhor através da fé e como ser transformado diariamente olhando para Ele. Foram eles quem nos mostraram o pecado das denominações, a unidade do Corpo de Cristo, e a unidade do Espírito Santo. Foram eles quem nos mostraram a diferença entre o judaísmo e a igreja. Na Igrejas Católica Romana e nas igrejas Protestantes, essa diferença não poderia ser prontamente vista, mas eles nos fizeram vê-la novamente. Foram eles também que nos mostraram o pecado da classe mediatória, como todos os filhos de Deus são sacerdotes, e como todos podemos servir a Deus. Foram eles também quem nos recuperaram o princípios das reuniões em 1 Coríntios 14, monstrando-nos que o profetizar não é a tarefa de um homem, mas a tarefa de dois ou três, e que o profetizar não é baseada na ordenação, mas no dom do Espírito Santo. Se fossemos enumerar uma a uma das verdades que eles recuperaram, poderíamos dizer também que nas igrejas Protestantes puras de hoje não há uma verdade que não tenha sido recuperada ou aperfeiçoada. [7]
Dispensacionalismo: Autores que influenciaram as interpretações dispensacionalistas incluem G.H. Pember, Robert Govett e D.M. Panton. [8]
Nacionalismo: O Pequeno Rebanho começou no meio do esforço da China por uma independência total. Foi um tempo quando o sentimento anti-estrangeiro e anti-cristão corriam alto. O povo chinês tinha ligado estreitamente o Cristianismo com o imperialismo Ocidental.
Nee estava ciente das formas nas quais o movimento missionário cristão estava compromissado por seu embaraço com o imperialismo Ocidental e com as controvérsias denominacionais. Ele também tinha plena ciência da inabilidade da igreja em geral para satisfazer a necessidade espiritual do povo. Contra tal pano de fundo, Nee desenvolveu um movimento totalmente independente do movimento cristão chinês retornando para um modelo mais simples, o modelo do Cristianismo do Novo Testamento. Portanto, o movimento era a combinação dos antigos princípios bíblicos e o novo e ardente nacionalismo.
OS PONTOS FORTES DA SUA TEOLOGIA
Cristocêntrica: Um dos pontos mais fortes da teologia de Nee é a sua ênfase sobre Cristo. “Além do mais, a ênfase de Nee sobre Cristo oferece nova esperança, força e vitalidade para os cristãos chineses que vivem debaixo de circunstâncias difíceis. Ela continuamente rejuvenesce a força deles, para que possam ser capazes de exercer sua responsabilidade cristã em meio de uma ambiente hostil”. [9]
Sola Scriptura: Durante uma época na qual a Bíblia era tratada de forma cética, os sinceros esforços de Nee para sustentar o princípio reformado do Sola Scriptura deve ser recomendado. [10]
Edificação dos crentes: Nee enfatizou grandemente a edificação dos crentes, o treinamento, o cultivo e o aprofundamento da vida espiritual dos cristãos. Como Stephen Chan escreveu: “Em minha opinião, na obra de pregação do meu tio, ele enfatizou a edificação dos crentes. Sua ênfase em treinar o cristão era igual aos seus esforços evangelísticos. Isso era o que ele e seus cooperadores tinham causado no reavivamento da Igreja Chinesa, diferentemente das características de outros reavivamentos. Outras igrejas não enfatizam a educação dos crentes (quer na verdade, quer na vida espiritual de um cristão)”. [11]
O sacerdócio de todos os crentes: Ele enfatizou que, embora os presbíteros governem, ensinem e pastoreiem a congregação, o ministério da igreja é uma coordenação espiritual de todos os crentes no Espírito Santo. Nee escreve:
Deus pretende que todo cristão seja um “trabalhador cristão,...”. Os presbíteros não são um grupo de homens que são contratados para fazer a obra no lugar de seus membros; eles são apenas aqueles que supervisionam os assuntos. [12]
Nee continua:
No Novo Testamento todos salvos são sacerdotes; portanto, todos os salvos devem servir. Se numa igreja somente uma minoria ou uma parte está servindo, há algo errado dentro dessa igreja; ela inda é fraca. Somente quando todos estiverem servindo é que a igreja será forte. [13]
Finalmente, Nee disse:
Ser um cristão é ser um sacerdote. Não espere que ninguém seja um sacerdote para você. Você mesmo deve desempenhar essa função. Visto que não temos nenhuma classe intermediária entre nós, ninguém te substituirá nas coisas espirituais. Que não haja classes especiais de tais trabalhadores criadas em nosso meio...Todos pregarão o evangelho, todos servirão a Deus. Quanto mais prevalecente for o sacerdócio, melhor a igreja será. Se o sacerdócio não for universal, fracassamos para com Deus; não temos andando corretamente. [14]
FRAQUEZA DA SUA TEOLOGIA
Antropologia
De acordo com J.A. Lee, um especialista na estrutura teológico de Watchman Nee, a teologia de Nee é sistemática, em todos os aspectos, mesmo sua eclesiologia única, centralizando em sua antropologia. Se aceitarmos isso, então entender a sua visão do homem é crucial para o entendimento de seus principais erros sistemáticos.
Nee é um tricotomista. Por todos os seus escritos, ele categorizou o homem em três partes: corpo, alma e espírito. No entendimento de Nee, o espírito tem o valor maior, o corpo físico o menor, e a alma o intermediário.
A partir do aspecto da redenção, Nee explica que essas três partes (corpo, alma e espírito) têm “relacionamentos funcionais”. A saber, o espírito controla a alma e o alma controla o corpo. Não somente há um relacionamento funcional entre os três, mas há também um relacionamento hierárquico. O espírito é superior à alma, e a alma é superior ao corpo. A partir desses relacionamentos, Nee determina suas doutrinas da Queda, regeneração e santificação.
De acordo com Nee, a intenção original de Deus é que o espírito controle o corpo, através da alma. Contudo, após a queda de Adão e Eva, essa ordem foi revertida. A Queda resultou no corpo controlando a alma do homem, a qual, conseqüentemente, controla o espírito. A regeneração para Nee envolve somente o espírito, não a alma ou o corpo, pois “o que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito” (João 3:6). A regeneração é, dessa forma, não a realização da salvação, mas o princípio.
Nee também desenvolveu uma teologia da “redenção da alma”, de acordo com o Dispensacionalismo. A redenção da alma ocorre quando as pessoas “perdem sua alma” tomando a cruz e sofrendo por causa do Senhor. Esses cristãos serão capazes de reinar com Cristo no Milênio. Nee via que há uma diferença entre “céu” e o “reino”. A redenção do espírito nos garante uma posição na vida eterno no céu, e a redenção da alma, “perdendo-se a alma”, nos garante uma posição no reino futuro. A primeira depende da fé e a última depende das nossas boas obras. [15]
Cosmologia
Segundo Lee, Nee sustentava um dualismo ético-religioso. [16] Nee polarizou o reino de Deus e o mundo (cosmos). O mundo e Deus estão em oposição, com o mundo controlado por Satanás. Satanás usa todas as atividades, isto é, cultura, comércio e economia para seduzir os cristãos para o seu sistema mundial e serem os seus escravos. Todavia, porque o mundo já está condenado, os cristãos devem ser salvos do mundo. Assim, nos ensinos de Nee, os cristãos devem se separar do mundo, cortar suas relações com o mundo, Embora os cristãos sejam a luz do mundo, isso diz respeito somente a compartilhar o Evangelho e Cristo ao mundo.
Deixe-me apontar também que Nee usa um método exegético alegórico, que é não-histórico. Devido ao método exegético de Nee e sua posição escatológica pré-milenista, sua teologia para com o mundo e a cultura era passiva, especialmente durante os tempos turbulentos dos anos 20 na China. Nee não era ativo em suas preocupações com a situação política e social naquele período.
Em sua crítica à cosmologia de Nee, Lee assevera que a posição de Lee carece da consciência do mandato cultural do cristão para este mundo. Todos os cristãos devem cantar, pelo menos em espírito: “Este é o mundo do meu Pai”. Nós temos a Grande Comissão bem como o mandato cultural para estarmos ativamente envolvidos no mundo como sal e luz da terra, protegendo e amando o mundo. Precisamos permanecer em contato com nossa cultura e ao mesmo tempo usar a verdade da Bíblia para iluminar, desafiar e transcender nossa cultura.
Lee aponta que o “homem espiritual” de Nee não é alguém que está apenas preocupado com o crescimento do seu espírito, mas com o do seu corpo também; a preocupação com a pessoa toda. Quer alguém divida o homem numa tricotomia ou dicotomia, um homem não está completo se lhe falta qualquer parte de sua mente, emoções e pensamentos. Deus não salva apenas o espírito de alguém, mas Ele salva a pessoa toda, incluindo todos os aspectos de uma pessoa.
Eclesiologia
Seu ensino sobre a igreja é muito exclusivo. Chan, sobrinho de Nee, apontou três principais áreas:
Ele considerava as denominações como organizações pecaminosas e caídas. Nee usava Gálatas 5:19-20, onde Paulo menciona os atos da natureza pecaminosa. Ele cria que “facções” eram as denominações. Se denominações eram organizações pecaminosas, os cristãos deveriam sair dessas organizações imundas e conduzir outros crentes a saírem. [17]
Nee cria que a igreja deve ser estabelecida de acordo com sua localidade. Toda epístola na Bíblia foi endereçada à igreja de acordo com sua localização. O apóstolo estabeleceu presbíteros em cada localidade. Especialmente em Apocalipse, as sete igreja mencionadas tinham cada uma delas seu próprio candeeiro; cada igreja é autônoma e financeiramente independente uma da outra.
Nee ensinava que as igrejas em nossa era tinham esquecido os princípios bíblicos. Portanto, devemos voltar à Bíblia e servir a Deus de acordo com os princípios lançados pelos apóstolos. Devemos servir a Deus “no nome do Senhor”, sem igrejas denominacionais.
No esforço de Nee para encontrar o único padrão bíblico possível para estabelecer a igreja, o “Pequeno Rebanho” foi encontrado. Contudo, a busca sincera de Nee pelo modo ideal de estabelecimento de igrejas não foi somente divisiva, ele, conscientemente ou não, criou outra denominação, mais restritiva do que a maioria.
CONCLUSÃO
A influência de Nee sobre as igrejas chinesas não está limitada à Ásia. Suas influências teológicas são vidas e bem até hoje. Sem dúvida Nee foi verdadeiramente um líder cristão dedicado que “não queria nada para si mesmo e tudo para o seu Senhor, que buscou durante toda a sua vida ser um homem espiritual até a morte”. Todavia, assim como qualquer outro líder cristão, ele não era perfeito. Devemos ser profundamente inspirados por seu amor e devoção a Cristo, e ao mesmo tempo sermos plenamente cientes dos aspectos dos seus ensinos que são extremos ao ponto de serem errôneos.
Como o sobrinho de Nee escreveu: Muitos líderes espirituais têm falhado e são fracos. Contudo, a Bíblia sempre foi verdadeira, nunca cobrindo as falhas dessas pessoas a quem Deus usou. As falhas de Abraão, Moisés e Gideão estão registradas na Bíblia. Deus não colocou esses eventos para nós vermos quão grandes, bem-sucedidos e dignos de nossa adoração essas pessoas eram, mas para permitir que vejamos que Suas obras maravilhosas manifestadas através de um punhado de vasos inúteis cumprindo Sua boa vontade. Da mesma forma, meu tio teve falhas. Todavia, essas coisas não negam a verdade de como Deus o usou poderosamente. Ele está entre os humildes, os defeituosos, todavia, ele foi verdadeiramente usado por Deus de uma maneira poderosa e foi um vaso cheio do precioso tesouro. [18]
NOTAS:
[1] — Angus Kinnear, The Story of Watchman Nee, Against the Tide, (Wheaton, Ill., Tyndale House Publishers, Inc., 1978), p.64
[2] — Leslie Lyall, Three of China's Mighty Men, (Overseas Missionary Fellowship [Great Britain], 1973), Chinese edition, p.34
[3] — Angus Kinnear, The Story of Watchman Nee, Against the Tide, (Wheaton, Ill., Tyndale House Publishers, Inc., 1978), p.112
[4] — Bernard Erling, The Story of Watchman Nee, The Lutheran Quarterly, p.144
[5] — Jian An Lee, Theological Critique of the Contemporary Chinese Church - A Study of Watchman Nee's Theology (Reformed Institute, Washington D.C., 1998), p7
[6] — Jessie Penn-Lewis, The Centrality of the Cross (Dorset, England: The Overcomer Literature Trust, n.d.) and The Cross of Calvary (Dorset, England: The Overcomer Literature Trust, n.d.).
[7] — Watchman Nee, The Orthodoxy of the Church (Los Angeles: The Stream Publishers, 1970), pp. 73-74.
[8] — Jian An Lee, Theological Critique of the Contemporary Chinese Church - A Study of Watchman Nee's Theology (Reformed Institute, Washington D.C., 1998), p.8
[9] — Peterus Pamudji, Little Flock Trilogy: A Critique of Watchman Nee's Principal Thought on Christ, Man and the Church (Madison, New Jersey, 1985), p. 183
[10] — ibid, p. 182
[11] — Stephen C.T. Chan, My Uncle, Watchman Nee. Chinese edition. (HongKong: Golden Lampstand Publishing Society Ltd., 1999), p.23
[12] — Nee, The Normal Christian Church Life, pp. 68-69.
[13] — Nee, Further Talks on the Church Life, p.137.
[14] — Nee, Love One Another, p. 189.
[15] — Jian An Lee, Theological Critique of the Contemporary Chinese Church-A Study of Watchman Nee's Theology (Reformed Institute, Washington D.C., 1998), p.13
[16] — Ibid, p.17
[17] — Stephen C.T. Chan, My Uncle, Watchman Nee. Chinese edition. (Hong Kong: Golden Lampstand Publishing Society Ltd., 1999), p.30
[18] — Stephen C.T. Chan, My Uncle, Watchman Nee. Chinese edition. (HongKong: Golden Lampstand Publishing Society Ltd., 1999), p.83
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